Os
primeiros imigrantes alemães chegaram ao Brasil
logo após a Independência, dentro de um
programa de colonização idealizado pelo
governo brasileiro, que visava o desenvolvimento da
agricultura e a ocupação do território
no Sul do País. A primeira colônia alemã
foi fundada em 1824, com o nome de São Leopoldo,
no Rio Grande do Sul, numa área de terras públicas
do Vale do Rio dos Sinos. As tentativas anteriores de
estabelecimento de colônias com alemães
na região Nordeste fracassaram, e a data de 1824
marca o início da corrente imigratória
proveniente de diversos estados alemães. Ao longo
de mais de 100 anos entraram no Brasil aproximadamente
250 mil imigrantes - num fluxo anual pequeno, mas contínuo,
que teve seu momento de maior intensidade em 1920, no
auge da crise econômica-social da República
de Weimar.
Durante
quase todo o período de duração
do fluxo imigratório (entre 1824 e 1937), a imigração
alemã se caracterizou pela participação
contínua no processo de colonização
em frentes pioneiras - compartilhada por outros imigrantes
europeus, sobretudo italianos - que resultou na formação
de um campesinato de pequenos proprietários.
Neste processo, os alemães e seus descendentes
ajudaram a ocupar as terras públicas dos três
estados do Sul através da fundação
de inúmeras colônias, concentradas na região
Noroeste de Santa Catarina, no planalto setentrional
do Rio Grande do Sul até o rio Uruguai, no planalto
paranaense e em alguns vales de rios, como o Sinos,
Jacuí, Taquari e Caí, no Rio Grande do
Sul, e Itajaí, em Santa Catarina.
Entre
as colônias mais conhecidas estão aquelas
que passaram por um processo de desenvolvimento econômico
com a industrialização - caso de Blumenau,
Joinville e Brusque, em Santa Catarina, e São
Leopoldo, Novo Hamburgo e Ijuí, no Rio Grande
do Sul - para citar alguns exemplos. Houve ainda estabelecimento
de alemães em algumas colônias do Espírito
Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo
- todas pouco expressivas. Por outro lado, uma parte
dos imigrantes - sobretudo após a Primeira Guerra
Mundial - se estabeleceu em cidades maiores como Porto
Alegre, Curitiba e São Paulo.
A concentração
em algumas regiões do Sul, além da manutenção
da língua e de outras características
da cultura original e da presença marcante de
uma imprensa, escola e associações germanizadas,
criou condições para o surgimento de uma
etnicidade teuto-brasileira, cuja marca é o pertencimento
primordial a um grupo étnico demarcado pela origem
alemã. Disto resultou uma longa história
de atritos com a sociedade brasileira, que culminou
com a campanha de nacionalização durante
o Estado Novo (1937-1945) - uma tentativa de acelerar
o processo assimilacionista. Os ideais primordiais de
pertencimento étnico, embora atenuados, não
desapareceram após a Segunda Guerra Mundial e
podem ainda hoje ser percebidos nas principais regiões
de colonização alemã.
Texto de Giralda Seyferth -
Site
Construção da Nação,
de Boris Fausto.